Iniciativas independentes levam cinema gratuito para as periferias de Belo Horizonte
4 de janeiro de 2021Região metropolitana também é contemplada com a democratização do acesso à cultura; a partir de hoje, programações envolve oficinas e exibição de filmes.
O acesso à cultura e ao lazer, direito previsto na Constituição Federal de 1988, deve ser para todos, independentemente da classe social ou da região onde se vive. O problema é que, muitas vezes, esse direito fundamental se torna privilégio de poucos em uma sociedade que precisa da arte para se reinventar e evoluir.
É no contexto de democratização do audiovisual que se inserem três projetos que têm início a partir desta quarta-feira (5) em Belo Horizonte e região metropolitana. Um deles é o Circuito Cinematográfico de Periferia, que será lançado na noite de hoje e chega à segunda edição neste ano. Como o próprio nome já entrega, o projeto pretende aproximar a sétima arte da cultura periférica, mas não só isso: quer também mostrar que ali há uma diversidade a ser explorada.
“A periferia é um dos berços da cultura nacional. Quando a gente leva o cinema para lá, estamos ampliando o escopo da periferia frente aos dilemas do cinema nacional”, afirma Helder Quiroga, coordenador da ONG Contato, organizadora do festival.
No total, serão exibidos 27 filmes de realizadores independentes de Minas e de todo o país, além de um conjunto de dez oficinas de capacitação profissional para jovens das comunidades de BH e região metropolitana. As atividades serão desenvolvidas no Alto Vera Cruz, Barreiro, Venda Nova, aglomerado da Serra, barragem Santa Lúcia, Lagoinha, Comunidade dos Arturos, em Contagem, e em Nova Lima. O Circuito Cinematográfico de Periferia estende sua programação até novembro – vale lembrar que a etapa Barreiro foi concluída no fim de maio.
Com três objetivos essenciais – formar e capacitar realizadores das periferias, fazer circular conteúdos oriundos dessas comunidades e formar público de cinema mineiro e nacional –, o projeto, de acordo com Quiroga, busca inserir a periferia no DNA do audiovisual brasileiro, “que é branco, masculino e de classe média-alta”. “Na periferia é onde existem as novas histórias que o cinema nacional tem que beber para diversificar em linhas temáticas seus filmes”, avalia Quiroga.
Nesta quarta, às 19h, na ONG Contato, acontece o lançamento do Circuito Cinematográfico de Periferia. No evento, haverá exibição de um curta do belo-horizontino Marcelo Lin e apresentações musicais com Vinicin e Mac Júlia.
Missão. Oderval Júnior nasceu no bairro Maria Helena, na região de Venda Nova, em BH, nas proximidades de Ribeirão das Neves. Ele cresceu sem ter uma praça ou espaço para atividades culturais. E ainda é assim. A vontade de transformar essa realidade ganhou nome em 2012 com o projeto Noite de Cinema, que, neste sábado, chega ao mirante Nova York, no parque Serra Verde, com sua tela inflável de 5 m de altura.
A partir das 18h, serão exibidos quatro filmes, com pipoca e suco de graça para a plateia. Já no dia 22 deste mês, na praça João Vianna, no bairro Santa Mônica, na região da Pampulha, o premiado longa “Temporada”, do diretor mineiro André Novais Oliveira, ganha as telas do projeto.
Oderval Júnior explica que há intervenções culturais com grupos de música, teatro e poesia dos locais onde o projeto desembarca. “Nossa missão é potencializar a produção audiovisual das quebradas e contribuir com a divulgação de tudo relacionado à cultura das periferias”, conta o produtor cultural. Além dessas etapas, o Noite de Cinema realiza uma edição mensal no bairro Maria Helena, onde Oderval Júnior ainda vive.
Negritude. Sob a temática “Quilombos urbanos, fé e cultura”, a 3ª Mostra CineAfroBH inicia-se neste sábado, no Quilombo dos Luizes, no bairro Grajaú, a divulgação e valorização dos territórios negros e da produção audiovisual afro-brasileira de realizadores de Minas, Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo. No dia 29, acontece a segunda sessão da mostra, no Terreiro Ilê Wopo Olojukan, no bairro Aarão Reis. Ao todo, dez filmes fazem parte da programação.
Sobre abrir espaço exclusivo para cineastas afro-brasileiros, a idealizadora e produtora executiva Carem Abreu é taxativa: “Percebemos que nossos filmes acabam não sendo selecionados nas mostras de cinema. Conseguimos compreender como o racismo estrutural toma conta do nosso país”.